quinta-feira, 25 de abril de 2013

O dia em que PT virou ARENA e Dilma, General


Em reação à tentativa do bloco governista impor a tramitação em regime de urgência no Senado do projeto que asfixia novos partidos, Pedro Simon (PMDB-RS) pronunciou um discurso com duros ataques a Dilma Rousseff. Comparou-a ao general Ernesto Geisel, que presidiu o país de 1974 a 1979, durante a ditadura.
“Talvez tenhamos que nos referir à marechala presidente”, ironizou Simon. “Talvez, daqui a pouco, ela tenha que aparecer com um casaco diferente. Pode até continuar sendo vermelho, sua cor preferida. Mas com estrelas.” Para Simon, o projeto que o governo deseja aprovar a toque de caixa assemelha-se ao “Pacote de Abril”, baixado por Geisel em 1977. Daí a analogia.
Depois de apoiar e até auxiliar Gilberto Kassab a fundar o seu PSD, o Planalto e seu consórcio partidário pisam no acelerador para aprovar a proposta que restringe o acesso de novos partidos às verbas do fundo partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na tevê. Por quê? Para asfixiar legendas novas que se organizam para servir de suporte a Marina Silva e Eduardo Campos, dois potenciais adversários de Dilma.
“Ontem, ajeitou-se tudo para resolver para o PSD. Terá ministério, tem tudo preparado para ir para o governo”, disse Simon, referindo-se ao partido que Kassab criou a partir de uma dissidência do proto-oposicionista DEM. “Tudo bem. Está feito. Mas agora, de uma hora para outra, de uma semana pra outra, querem fazer tudo para evitar a Marina [Rede] e o MD [Movimento Democrático, nascido da fusão do PPS com o PMN]. Não pode ser. Não tem condições.”
O Pacote de Abril, evocado por Simon e por outros oposicionistas para desqualificar o projeto que o Planalto empina, incluiu o fechamento do Congresso. “O PT só não fecha porque não tem força para tanto”, disse Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que endossou a comparação feita por Simon.
Quando Geisel editou o seu “pacote”, os militares vinham de um revés eleitoral, sofrido em 1974. O regime perdera as eleições na maioria dos Estados. Para não perder também a maioria no Legislativo, alterou as regras da eleição de 1978. Decidiu, entre outras coisas, que metade das cadeiras que estavam em jogo no Senado seriam preenchidas por senadores biônicos, sem voto.
No seu discurso, Simon comparou o PT à Arena, o partido da ditadura. Recordou uma cena que testemunhara horas antes. “Hoje de manhã, assistimos na Comissão de Constituição e Justiça delegados de polícia e senadores do PT, de mãos dadas, cantando o hino nacional, porque foi aprovado projeto que dá força aos delegados contra os promotores [que tiveram os poderes de investigação podados]”.
Simon prosseguiu: “No mesmo dia, agora à tarde, vamos ver nossos amigos da Arena fazendo um novo festejo. Esse é o Pacote de Abril. Meus amigos do PT, foi com esses pacotes de abril que a Arena colocou senadores biônicos aqui no plenário. Foi com iniciativas como essa que a Arena explodiu. E o PT está caminhando na direção da implosão.”
Simon vaticinou: Dilma, “que tinha o carinho, o respeito e a credibilidade vai ver para onde vai baixar o seu prestígio. Ela vai se identificar com o que tem de mais triste, de mais infeliz, de mais vulgar na políitca brasileita.” Voltando-se para o líder do PT, Wellington dias (PI), indagou: “O PT aceita essa humilhação? Os líderes do PT são obrigados a dizer amém para uma coisa dessas?”
Nesse instante, os senadores se revezam no microfone do Senado. Debatem o pedido de urgência par o projeto que submete os novos partidos ao torniquete das verbas do fundo partidário e do tempo de rádio e tevê. Se for aprovado, o regime do toque de caixa permite que a proposta seja apreciada sem passar pelas comissões do Senado. Se isso ocorrer, pode ser aprovado já na próxima semana. Presente, Marina Silva assiste a tudo. Veste preto.
Simon não foi o único filiado do PMDB a se opor à proposta que a direção do partido, a começar do vice-presidente Michel Temer, defende ardorosamente. Além de Simon, discursaram contra o projeto os pemedebês Jarbas Vasconcelos (PE), Roberto Requião (PR), Ricardo Ferraço (ES) e Cassildo Maldaner (SC). A matéria dividiu também a oposição. O DEM, escaldado pela erosão que Kassab provocou em seus quadros, é a favor. O PSDB do presidenciável Aécio Neves é contra.

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