Forma e conteúdo
Marina Silva*
Na noite desta quarta, o Brasil assistiu, envergonhado, a um debate
indigno do Legislativo e sua tradição democrática. Na forma e no
conteúdo, houve o que o deputado Roberto Freire com acerto classificou
como tentativa de golpe.
Todos já esperávamos que a reforma política fosse adiada outra vez, por
falta de interesse dos que estão no poder e não querem mudar o sistema
que lhes favorece. Mas há um fantasma que querem afastar: que novos
partidos políticos (especialmente a Rede Sustentabilidade, que recolhe
assinaturas para seu registro e ousa antecipar em seu estatuto avanços
como o teto de contribuição financeira, limitação de dois mandatos para
parlamentares etc.) venham renovar a política brasileira e mudar, na
prática, regras que permanecem no papel.
A imprensa noticiou uma reunião no Planalto em que o governo instruiu
seus operadores a votarem, em regime de urgência, um projeto que retira
dos novos partidos o acesso ao tempo de TV e ao fundo partidário. Os
direitos que foram garantidos a um partido aliado, recém-criado, seriam
negados aos que não seguem a cartilha governista. Esse é o conteúdo do
debate, baseado numa ética de ocasião expressa pela máxima "Aos amigos,
tudo; aos inimigos, a lei".
Mas a forma conseguiu ser pior. Basta ver as metáforas de mau gosto, com
termos impróprios à publicação, usadas para debater as regras políticas
da República. O regime de urgência não passou por falta de dez votos. A
bancada governista diz que aprovará o projeto na próxima semana. Talvez
o tempo sirva para que os deputados repensem a forma e o conteúdo do
debate.
Os movimentos que defendem o patrimônio socioambiental exigem ética na
política, protestam contra o loteamento dos cargos públicos, além de
outras justas causas do povo brasileiro. Buscam ampliar a visão
encurtada pelo poder a qualquer preço, democratizar os processos
políticos monopolizados pelos partidos e criar novas estruturas para
reconectar a política com a ideia de bem público. Justamente o contrário
dos privilégios e deleites particulares sugeridos pelas metáforas
vulgares. Esse é o novo conteúdo que trazem a um debate que precisa
chegar ao século 21, que bate à nossa porta de forma dramática.
Renovar a linguagem é urgente. Em vez do ódio, expresso em ofensas,
estimulado numa polarização em que o outro é visto como inimigo, deve
ter espaço a fraternidade, capaz de construir consensos sobre o que é
urgente para o futuro. É por isso que o novo ativismo, que está na base
das novas propostas políticas, é bem-humorado, criativo, irreverente sem
ser desrespeitoso.
Uma nova política tem como uma causa central a qualidade da educação. É o que parece faltar à velha política.
*Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na versão da Folha
Publicado na Folha de São Paulo no dia 12 de abril - Link para o artigo original, clique aqui..
Visando as eleições de 2014, os partidos políticos começaram a discussão política e colocam a máquina nas ruas.
ResponderExcluirAliás, há mais mentira e falácia que discussão política. As posições tornam-se cada vez mais pessoais e raivosas.
Acontece que os governistas (no Planalto e nos Estados) querem repetir o golpe orquestrado em 2010. Querem eliminar as candidaturas que propõem a discussão do país e das administrações estaduais.
É providencial e eleitoreiro explorar a ignorância e o desânimo político da população.
Com caneta nas mãos, a cooptação dos partidos políticos pelos chefes do poder executivo em Brasília e nos Estados vai diminuindo os espaços democráticos. Querem transformar as eleições em palanques de mentiras pré plebiscitárias. ISSO É GOLPE VELADO!
Como justificar posições partidárias que apoiam tucanos nos Estados e o PT em Brasília?
Que venham Marina Silva, Roberto Freire, Eduardo Campos e quem mais tiver ideias. Precisamos discutir o país sem arrogância. Precisamos pensar naquilo que a população precisa.