terça-feira, 12 de março de 2013

Movimentos a esquerda.


O pós-PT

Merval Pereira, O Globo

Nos preparativos para a campanha presidencial do próximo ano, cujos primeiros passos já começam a ser dados, o PPS, uma pequena sigla partidária, destaca-se na tentativa de aglutinar as forças do que chama de “esquerda democrática” em torno de um projeto para derrotar “esse bloco que está aí no governo”.
O partido fará em abril uma reunião para a qual já foram convidados três dos prováveis candidatos a adversários da reeleição da presidente Dilma Rousseff — Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva — e mais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador de São Paulo José Serra.
O PPS encontra-se numa posição peculiar dentro das negociações oposicionistas, podendo servir de abrigo à candidatura de Marina Silva caso ela não consiga montar a tempo sua REDE, como também é visto como um possível parceiro do governador de Pernambuco Eduardo Campos.
A possibilidade mais remota é a que sempre foi a opção quase automática do PPS, apoiar o candidato do PSDB, que deve ser o senador Aécio Neves. Isso porque a ligação política de Freire no PSDB é com José Serra, que estaria insatisfeito com os rumos que a direção nacional do PSDB estaria dando à definição do candidato em 2014.
Há ainda quem veja a possibilidade de Serra entrar para o PPS e vir a disputar novamente a Presidência da República, ou até mesmo aceitar formar como vice uma chapa com o governador pernambucano, mas essa seria uma opção bastante remota para quem sempre quis ser Presidente.
Esse movimento do PPS não é novo. O hoje deputado Roberto Freire pensa há muitos anos em unir os políticos ligados ao que chama de “esquerda democrática” para um projeto político comum. No final de 2003, depois da vitória de Lula à Presidência, Freire teve um encontro com Fernando Henrique em Providence, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente lecionava na Universidade Brown.
Já naquele tempo ele citava o PSB como um parceiro provável, e via como possível uma aproximação com o PT que, acreditava, estava fazendo o seu “aggiornamento” (processo de atualização que o Partido Comunista Italiano fez em 1991, mudando de nome e abandonando o marxismo), depois de chegar ao governo e encarar realidades inescapáveis como a reforma da Previdência, que o governo Lula levou adiante nos seus primeiros momentos.
Antes, quando estava na oposição e esses assuntos afloravam na esquerda, “eram por eles desqualificados”, lembrava Freire na ocasião. Os dois relembraram na conversa que o PT classificava o PSDB de direita, mas assumira a agenda do governo Fernando Henrique “porque essa é a agenda de uma esquerda moderna”.
Freire lembrou na ocasião que “a esquerda no mundo fez esse debate”, e dava os exemplos de Felipe González e o PSOE na Espanha, do Partido Comunista Italiano e do próprio Partido Comunista Brasileiro, do qual é originário o PPS: “Nós do velho Partidão fizemos essa transição, com uma série de dificuldades, com traumas, com perdas, mas fizemos”.
Também o então deputado federal Fernando Gabeira, que se desligara do PT por discordar da política de meio ambiente do governo, constava dos planos do PPS para uma união de forças políticas. Já naquela ocasião Freire estava convencido de que a esquerda democrática não se representa totalmente nos partidos, e dava exemplos de dentro do PMDB, como o então governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que hoje está apoiando o projeto de Eduardo Campos.
A ideia de “reforçar as convergências” já estava clara para ele, que, no entanto, acreditava que o que chegara ao poder era “um novo PT”.
Hoje, dez anos depois, está convencido de que o PT nunca esteve disposto a interagir com as demais forças democráticas da esquerda, mas apenas manter-se no poder, para isso fazendo alianças com forças políticas fisiológicas.
A eleição de 2014 está se desenhando como uma possibilidade de união de diversos segmentos partidários para definir uma era pós-PT, e essa é a principal motivação que, por enquanto, une os diversos candidatos que se contrapõem à reeleição de Dilma.

*******

Encontro do PPS reúne Eduardo, Aécio e Marina 

Josias de Souza 

Os três prováveis rivais de Dilma Rousseff na sucessão de 2014 se encontrarão numa conferência política do oposicionista PPS, em Brasília. Durará três dias. Convidados, Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva toparam participar da abertura, em 11 de abril. Fernando Henrique Cardoso e José Serra também irão.
O evento resume o atual estágio da política nacional. Não há candidaturas formalizadas. Mas todos se movem como candidatos. O PPS é um partido pequeno. Porém, em fase de montagem prematura de palanques eletrônicos, nenhum dos contendores dá-se ao luxo de dispensar segundos de propaganda.
Em disputas passadas, o tempo de tevê do PPS era cedido quase que automaticamente ao PSDB. Hoje, o tucano Aécio enfrenta a concorrência de Eduardo, do PSB. Marina tenta lançar a sua Rede. Mas tem no PPS um ‘Plano B’ –para o caso de não conseguir reunir até setembro as 500 mil rubricas necessárias à fundação de um novo partido.
Presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP) diz que a legenda deseja perscrutar na conferência o pensamento da “esquerda democrática”. Para ele, os quase-futuros-candidatos à Presidência se encaixam no rótulo. “São lideranças que terão influência no processo de 2014 e representam esse espectro da esquerda.”
Mas, afinal, quem vai dispor do apoio do PPS? “O partido não tem ainda nenhum consenso”, afirma Freire. Não pende para Eduardo Campos? “Hoje, realmente há certa preferência”, ele admite. “Talvez porque o Eduardo simbolize a possibilidade de a gente superar esse bloco que está aí no governo.”
A decisão do PPS sobre 2014 não será tomada agora. A conferência de abril é preparatória para o 18o Congresso da legenda, a ser realizado no final do ano. Até lá, confirma Freire, o PPS amadurecerá a ideia de fundir-se a uma outra legenda, provavelmente o nanico PMN.
Com a fusão, sustenta Freire, surgirá um novo partido, apto a abrigar políticos de outras legendas sem o risco da perda de mandatos. “Temos que conversar internamente, mas entendendo que, seja qual for o nosso caminho, essa fusão pode ser importante.”
Como assim? Freire pensa alto: “Só para dar um exemplo: suponha que Marina não consiga viabilizar a Rede e que o Eduardo, por alguma razão, não se consolide. A fusão abriria uma perspectiva para a Marina e todo o bloco que ela está articulando. Não podemos descartar uma coisa assim.”